Envelhecimento

4. A Saúde

4.2. Sinais precoces de perda de saúde nas pessoas idosas com DI

Nas PCDI com DI que sobrevivem e atingem uma idade mais avançada, a combinação de doenças prolongadas, o uso de medicamentação que lhe está associada e o processo "normal" de envelhecimento tem um maior risco de saúde e uma precoce carga da doença.

Os baixos rendimentos limitam a escolha de uma alimentação saudável, um elevado consumo de calorias (açúcar) e um baixo consumo de vegetais na alimentação diária, alguns medicamentos antipsicóticos, a falta de atividade física e de educação para a saúde e aumentam o risco de desenvolvimento de um amplo espectro de doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, pulmonares , doenças metabólicas ( doenças que causam alteração no funcionamento geral do organismo) e neoplásicas (tumores), osteoartrite (doença crônica associada a lesões na cartilagem e tecidos circundantes) que obrigam muitas vezes a cirurgias e ao consumo de anestésicos (1).

Man with walking sticksFoto: Lars Aage Hynne

A falta de atividade física conjugada com  problemas de saúde dentária e uma nutrição inadequada, que resultam em excesso de peso e obesidade, são os mais importantes fatores de risco que podemos evitar e alterar. Os esforços desenvolvidos numa idade precoce provocam efeito numa idade mais avançada e permitem que as pessoas desenvolvam hábitos de vida saudáveis que lhes garantem que continuem a amadurecer e a envelhecer com uma sensação de bem-estar. A sobrevivência das pessoas que perderam a mobilidade é mais difícil nas pessoas idosas do que na população geral (1).

Sinais precoces de perda de saúde nos idosos com DI mais frequentes do que outros problemas de saúde são (1) :).

  • Cancro (ver mais informação no capítulo 4.7)
    • Demência; tremendamente precoce nos Síndromes de Rett (doença neurológica que ocorre quase exclusivamente em crianças do sexo feminino. Após um período inicial aparentemente normal as crianças afectadas desenvolvem microcefalia com regressão do desenvolvimento e alterações neurológicas e comportamentais características) e Angelman ((doença genético-neurológica que se caracteriza por atraso no desenvolvimento intelectual, dificuldades na fala, distúrbios no sono, convulsões, movimentos desconexos e sorriso frequente) e frequentemente no Síndrome de Down
    • Deficiência auditiva, causada por infecções crônicas do ouvido médio e cera do ouvido que bloqueiam o canal, e uma prevalência moderada de perda auditiva neurossensorial e combinada.
    • Hepatite B, Tuberculose e infeções da mucosa gástrica por Helicobacter Pylori (HP) (infeção bacteriana que causa inflamação do estomago – gastrite, úlcera péptica e determinados tipos de cancro do estomago) em pessoas institucionalizadas
    • Dores Musculoesqueléticas (causadas por doenças nos ossos, articulações, músculos, tendões, ligamentos, bursas ou uma combinação destes quadros clínicos)
    • Saúde Oral; as gengivites são mais precoces , mais rápida e extensas nas pessoas com síndrome de Down.
    • Osteoporose (redução da densidade dos ossos que enfraquece os ossos, tornando-os suscetíveis a quebra) e fraturas associadas
    • Excesso de peso e obesidade
    • Efeitos secundários do consumo de drogas
    • Traumas de abuso e violência não resolvidos
      • Erros de refração, estrabismo, cataratas e ceratocone (doença ocular não inflamatória que afeta o formato e a espessura da córnea, provocando a perceção de imagens distorcidas), hipermetropia (dificuldade de ver ao perto), miopia e astigmatism

      Há que diga que todas as PCDI grave e profunda e todos os adultos mais velhos com síndrome de Down devem ser considerados deficientes visuais, até prova em contrário. Em geral, nestes adultos mais velhos com DI as deficiências visuais são mais graves devido à patologia visual pré-existente na infância e a outras deficiências sensoriais e físicas coexistentes (2).

      Os idosos que nunca sofreram de deficiência visual ao longo da vida podem não estar bem preparados para lidar com ela na velhice. Falta de conhecimento, tentativas de reabilitação ou mudanças de meio ambiente para lidar melhor com o seu problema de visão, podem ter mais consequências do que as necessárias. A família e os cuidadores, muitas vezes, não têm sensibilidade, experiência ou o conhecimento necessário para lidar eficazmente com a regressão significativa das funções da visão e da audição (1).

      As mulheres idosas com deficiências menos graves e aquelas com determinadas síndromes, tais como, a síndrome de Down e a síndrome de Prader-Willi são mais propensas a serem obesas, do que os seus pares. Pode ser difícil criar um estilo de vida saudável quando há rigidez e dor no corpo por causa do envelhecimento. Portanto, é importante a avaliação da dor nos idosos.

      As doenças cardiovasculares são por um lado difíceis de diagnosticar uma vez que as pessoas com DI apresentam taxas relativamente baixas de hipertensão e hiperlipemia (aumento da concentração de lípidos no sangue), mas por outro lado, as doenças cardiovasculares são consideradas como a principal causa de morte das pessoas com DI na maioria dos países ocidentais.

      Os sinais precoces de perda de saúde, especialmente nos idosos com síndrome de Down, são:

      • Alteração da atividade das células T (grupo de glóbulos brancos - leucócitos - responsáveis pela defesa do organismo contra agentes desconhecidos -antígenos -) e tumores, com risco acrescido de leucemia
      • Doença de Alzheimer, muito frequente nos idosos (aproximadamente 50%) com mais de 60 anos
      • Atlantoaxial e Coluna Cervical, para mais informações assista a este vídeo (19): https://www.youtube.com/watch?reload=9&v=MLhcA6Ngrmc[BW9] 
      • Doença Celíaca (processo inflamatório crónico que se desenvolve em pessoas suscetíveis como resultado da ingestão de glúten 
      • Diabetes Mellitus (Níveis de açucar no sangue muito elevados)
      • Epilepsia
      • Doenças do sistema imunológico, pode haver uma relação entre as infeções recorrentes e o risco acrescido de esquizofrenia e outras psicoses (1)
      • Apneia do sono
      • Osteoartrite (doença das articulações que tem como possíveis causas obesidade, esforços físicos repetitivos e desporto)l.
      • Osteoporose
      • Tiroidites (inflamação da tireóide, que pode acontecer por diversas causas como alterações da imunidade, infecções ou uso de remédios)

      Sinais precoces de perda de saúde, por volta dos 20 a 30 anos de idade, podem ocorrer em adultos em regime não ambulatório, ou seja, adultos com paralisia cerebral, totalmente dependentes do uso de cadeiras de rodas e pessoas com DI grave e profunda (1, 3):

      • Depois dos 60 anos, um declínio acentuado na deterioração da função muscular; agravam-se os valores, já por si baixos, de densidade mineral óssea com potenciais consequências para o início precoce da osteoporose e dos ossos frágeis
      • Fatores de risco de doenças cardiovasculares
      • Depressão
      • Aumento das dificuldades cognitivas
      • Excesso de peso e obesidade, IMC acima de 27
      • Problemas com a deglutição (engolir) - alimentação e postura
      • As doenças respiratórias são causadas principalmente  por pneumonia e aspiração pulmonar, normalmente associadas à doença do refluxo gastroesofágico (DRGE).
      • Fatores de risco de constipação ( remédios específicos)
      • Diabetes tipo 2

      Os estudos demonstram que as pessoas com DI elevada e profunda têm menores taxas de hiperlipemia (concentração elevada de gorduras no sangue – colesterol e triglicéridos), de excesso de peso e obesidade, de diabetes tipo 2 e menores taxas de hipertensão comparativamente com as pessoas com DI leve e moderada. Demonstram também que o fumar é menos comum em pessoas com DI elevada e profunda.

      A ideia de boa saúde física está associada à boa saúde mental. O bem-estar subjetivo e a personalidade influenciam a visão da pessoa sobre a saúde mental e física.

      As pessoas com um grau elevado de DI têm três a quatro vezes maior probabilidade de sofrer problemas mentais do que a população em geral. Ao mesmo tempo, presume-se que as pessoas com um grau de DI moderado têm uma a duas vezes maior probabilidade do que as pessoas com um ligeiro grau de DI. Há, no entanto, uma divergência entre os vários estudos de saúde mental (4, 5).

      Estão comprovadas as ligações entre os acontecimentos da vida e os problemas mentais bem assim como a correlação entre a depressão e as condições de vida desfavoráveis (6). Pessoas com um ligeiro grau de DI com características fundamentais para serem integradas podem sentir que precisam esconder a sua deficiência e o seu passado, por ex. o sentimento de vergonha de crescer numa instituição (7). Tais situações podem levar a um estado pouco saudável e estressante, especialmente se essa for uma questão do seu quotidiano. Crescer numa instituição também envolve um alto risco de stresse, o que pode levar a dificuldades psicológicas (4).

      ATIVIDADES:

      • Pense no diagnóstico do seu filho e relacione-o com o risco de envelhecimento prematuro; qual acha que é o maior risco para a saúde neste caso?
      • O mais importante é uma avaliação feita por pessoas próximas ao idoso. Como pode avaliar sinais precoces de problemas de saúde no seu filho e como pode envolvê-lo nessa avaliação?
      • Fale com o seu filho sobre a importância de ele cuidar da própria saúde e indicar lugares no corpo que lhe doem.
      • Questione o ao seu filho sobre a vida diária dele, e se há situações ou pessoas que o stressam. Essas pessoas estão felizes, tristes ou zangados a maior parte do tempo? O que é que os faz sentir felizes, tristes ou zangados?
      • Pergunte ao seu filho que estratégias de sucesso utiliza no dia a dia para se sentir feliz na sua vida.

      Foto: Jørn Grønlund